Chaga: O diamante da floresta

Inonotus obliquus, popularmente conhecido como Chaga, é celebrado por uma série de apelidos importantes. Os russos da Sibéria por exemplo, o apelidaram de “Presente de Deus” ou “O Cogumelo da Imortalidade”, enquanto os japoneses o denominam “Diamante da Floresta”. Este cogumelo se destaca por sua riqueza em antioxidantes, minerais e vitaminas, atributos que lhe conferem o título merecido de “O Rei dos Cogumelos”.

Este fungo opta por crescer nos troncos de bétulas em regiões de clima frio. Sua presença é comum na Rússia, no Norte da Europa, na Ásia e na América do Norte.

Embora seja comumente referido a um cogumelo, o Chaga é na realidade um “esclerócio” – uma formação endurecida que resulta da combinação do micélio de Chaga com a madeira da arvore bétula. Além disso, ele pertence ao grupo dos Polyporos, que são fungos conhecidos por terem estruturas reprodutivas complexas, onde apresentam uma superfície repleta de esporos localizada dentro de poros. Por isso, esses cogumelos tendem a ter uma consistência lenhosa quando atingem a maturidade e são, ocasionalmente, referidos como “Conks”.

 

A PACIÊNCIA É UMA VIRTUDE

O Chaga é precioso justamente porque não é um fungo de crescimento rápido; o seu “esclerócio” leva entre 3 a 5 anos para se formar completamente. Fora isso, ele pode viver até vinte anos na árvore hospedeira (principalmente árvores de bétula) até que eventualmente a árvore caia e pereça. A relação simbiótica entre o fungo e a árvore é crucial para criar compostos específicos que são responsáveis pelas notáveis propriedades benéficas do Chaga. Entre esses componentes cruciais, destacam-se o betulino e o ácido betulínico, elementos que são verdadeiros presentes da natureza e que partem de um processo reprodutivo enigmático, para dizer o mínimo!

 

HISTÓRIA

O povo Khanty (1) da Sibéria Ocidental, por volta do século 12, era conhecido por usar o Chaga de diversas formas, como por exemplo, para auxiliar a digestão. Eles também costumavam combinar o chaga com alguma gordura animal, criando uma espécie de sabonete para passar no corpo, e registraram que essa mistura ajudava a acalmar a pele. Com isso, o Chaga logo se disseminou pelo que hoje conhecemos como Rússia moderna, e acabou sendo utilizado por caçadores e coletores para aumentar a nossa capacidade de trabalho e promover resistência física.

Vale mencionar também que o ilustre Shen Nung (2), autor do livro – A Matéria Médica do Divino Agricultor (Shen-nung pen ts’ao ching), considerado por muitos até hoje como o pai da medicina chinesa e a pessoa que introduziu a acupuntura e os fundamentos da agricultura na China. Elencou em seu livro (citado acima) 365 substâncias medicinais extraídas de minerais, plantas e animais e atribuiu ao Chaga o título de ‘Rei das Ervas’, ressaltando suas multifacetadas e abrangentes propriedades benéficas para a saúde.

 

O QUE TORNA ESSE FUNGO TÃO RENOMADO?

O Chaga se destaca pela sua rica constituição de nutrientes, que inclui uma vasta gama de vitaminas e minerais. Indo desde vitaminas do complexo B e vitamina D, até uma série de minerais como potássio, rubídio, césio, cobre, selênio, zinco, ferro, manganês, magnésio e cálcio. Ele também é fonte de aminoácidos e fibras.

E não para por aí: O Chaga também contém ácido betulínico, (3) um triterpenoide que ocorre naturalmente e é um composto bioativo majoritariamente presente nas árvores de bétula. Este composto é especialmente conhecido pelas suas propriedades anti-inflamatórias.

O primeiro estudo sobre a composição química do Chaga foi conduzido pelo químico e farmacêutico nascido na Alemanha, Johann Georg Noel Dragendorff, no ano de 1864. Desde essa época, pesquisas científicas continuaram a descobrir a complexidade bioquímica do Chaga, identificando um conjunto diversificado de aproximadamente 200 metabólitos bioativos. Esses metabólitos abrangem uma variedade de substâncias como polissacarídeos, dentre eles os beta-glucanos, melanina e triterpenos, todos com potenciais benefícios para a saúde.

REFORÇO À IMUNIDADE: O PODER ANTIOXIDANTE DO CHAGA

Uma das razoes que fazem do Chaga um aliado poderoso para o sistema imunológico é seu teor excepcionalmente alto de antioxidantes, que literalmente quebram as escalas—especificamente, a escala ORAC. Essa métrica é usada em experimentos controlados para avaliar a eficácia de alimentos, como o cogumelo Chaga, na proteção de moléculas contra os danos causados por radicais livres. Com um valor de 52.000 na escala ORAC, o Chaga se destaca como um dos alimentos mais ricos em antioxidantes do mundo.

Para dar uma perspectiva mais concreta, uma única xícara de pó de Chaga oferece a mesma quantidade de antioxidantes encontrada em 600 amoras silvestres. Um estudo publicado no Journal of Agricultural and Food Chemistry comparou o Chaga com outros quatro cogumelos funcionais, revelando que ele os superou em termos de capacidade antioxidante (4).

Diversas pesquisas (5) indicam que o Chaga pode ser efetivo na neutralização de radicais livres. Radicais livres nada mais são do que moléculas instáveis, que contêm um ou mais elétrons desemparelhados, que são capazes de causar danos a diversas estruturas celulares, incluindo células, gorduras e proteínas, e até mesmo o nosso DNA. Além disso, eles contribuem para processos inflamatórios, infecções, envelhecimento e interrupções na produção de energia.

CHAGA, O NOVO ALIADO DO SKINCARE?

A pele é mais do que uma simples “capa”— ela é o maior órgão do nosso corpo e parte do sistema tegumentar. Sua principal função é servir como uma barreira, mantendo nossos tecidos, órgãos e fluidos corporais seguros enquanto nos protege de fatores externos, como toxinas e patógenos.

Fatores ambientais como fumar, exposição à radiação, exercício físico excessivo e escolhas alimentares inadequadas podem gerar radicais livres. Alimentos como o Chaga, ricos em antioxidantes, entram em ação aqui. Eles ajudam a prevenir o estresse oxidativo fornecendo mais capacidade de eliminar essas moléculas prejudiciais. O ácido betulínico presente no Chaga, especificamente, tem mostrado proteger a pele contra danos causados por radicais livres e envelhecimento. Estudos apontam que ele também estimula a produção de colágeno (6), a proteína responsável pela aparência jovem da pele (7).

ENERGIA NATURAL

O Chaga proporciona uma forma natural de energia que, ao contrário do café, não resulta em quedas bruscas de energia ou nervosismo. Ele oferece um fluxo contínuo e estável de vitalidade. Um estudo realizado com 64 camundongos confirmou esses benefícios: os que foram alimentados com Chaga tiveram uma resistência física maior e se cansaram menos do que os que não receberam este cogumelo (8).

TRITERPENOS: O COMPONENTE MAGICO DO CHAGA

Triterpenoides são uma das substâncias bioativas presentes no Chaga. Estes compostos são conhecidos por suas várias propriedades benéficas, incluindo efeitos anti-inflamatórios, antivirais e antimicrobianos. Além disso, têm um papel na modulação do sistema imunológico, por isso, acredita-se que eles podem ser úteis no tratamento de algumas doenças imunológicas. No entanto, a ciência ainda está investigando isso melhor para entender com mais precisão como eles funcionam!

PONTOS PRINCIPAIS

1. Um potente antioxidante!
2. Pode melhorar a nossa saúde imunológica.
3. O ácido betulínico encontrado no Chaga pode proteger a nossa pele contra radicais livres.
4. O Chaga pode nos fornecer uma fonte natural de energia prolongada.
5. Pode auxiliar na nossa digestão.

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Referências

• Géry, A., Dubreule, C., André, V., Rioult, J,P., Bouchart, V., Heutte, N., Eldin de Pécoulas, P., Krivomaz, T., and Garon, D. (2018) ‘Chaga ( Inonotus obliquus), a Future Potential Medicinal Fungus in Oncology? A Chemical Study and a Comparison of the Cytotoxicity Against Human Lung Adenocarcinoma Cells (A549) and Human Bronchial Epithelial Cells (BEAS-2B)’. Integr Cancer Ther. 17 (3), pp.832-843. doi: 10.1177/1534735418757912

• National Library Of Medicine. (2012). Classics of Traditional Chinese Medicine. Available at:https://www.nlm.nih.gov/exhibition/chinesemedicine/emperors.html (Accessed: 31 May 2023).

• Géry, A., Dubreule, C., André, V., Rioult, J,P., Bouchart, V., Heutte, N., Eldin de Pécoulas, P., Krivomaz, T., and Garon, D. (2018) ‘Chaga ( Inonotus obliquus), a Future Potential Medicinal Fungus in Oncology? A Chemical Study and a Comparison of the Cytotoxicity Against Human Lung Adenocarcinoma Cells (A549) and Human Bronchial Epithelial Cells (BEAS-2B)’. Integr Cancer Ther. 17 (3), pp.832-843. doi: 10.1177/1534735418757912

• Cui, Y., Kim, D,S., and Park, K,C. (2005). ‘Antioxidant Effect of Inonotus Obliquus’. J Ethnopharmacol. 96 (1-2), pp.79-85. doi: 10.1016/j.jep.2004.08.037. 

• Park, Y,K., Lee, H,B., Jeon, E,J., Jung, H,S., and Kang, M,H. (2004) ‘Chaga mushroom extract inhibits Oxidative DNA Damage in Human Lymphocytes as Assessed by Comet Assay’. Biofactors. 21(1-4), pp.109-12. doi: 10.1002/biof.552210120. 

• Drąg,-Zalesińska, M., Rembiałkowska, N., Borska, S., Saczko, J., Drąg, M., Poręba, M., and Kulbacka, J. (2019) ‘A New Betulin Derivative Stimulates the Synthesis of Collagen in Human Fibroblasts Stronger than its Precursor’. In Vivo. 33 (4), pp.1087-1093. doi: 10.21873/invivo.11577. PMID: 31280196; PMCID: PMC6689372.

• Yan, ZF., Yang, Y., Tian, FH., Mao, X,X., Li, Y., and Li, CT. (2014). ‘Inhibitory and Acceleratory Effects of Inonotus obliquus on Tyrosinase Activity and Melanin Formation in B16 Melanoma Cells’. Evid Based Complement Alternat Med. 259836. doi: 10.1155/2014/259836. Epub 2014 Aug 13. 

•  Xiuhong, Z., Yue, Z., Shuyan, Y., and Zhonghua, Z. (2015) ‘Effect of Inonotus Obliquus Polysaccharides on physical fatigue in mice’. ScienceDirect. 35 (4), pp.468-472. doi https://doi.org/10.1016/S0254-6272(15)30126-6

• Hu, Y., Sheng, Y., Yu, M., Li, K., Ren, G., Xu, X., and Qu, J. (2016) ‘Antioxidant activity of Inonotus obliquus polysaccharide and its amelioration for chronic pancreatitis in mice’. Int J Biol Macromol. 87, pp.348-56. doi: 10.1016/j.ijbiomac.2016.03.006. 

• Park, Y,K., Lee, H,B., Jeon, E,J., Jung, H,S., and Kang, MH. (2004). ‘Chaga mushroom extract inhibits oxidative DNA damage in human lymphocytes as assessed by comet assay’. Biofactors. 21 (1-4), pp.109-12. doi: 10.1002/biof.552210120. 

• Zheng, W., Zhao, Y., Zhang, M., Wei, Z., Miao, K., and Sun, W. (2009) ‘Oxidative Stress Response of Inonotus Obliquus Induced by Hydrogen Peroxide’. Med Mycol. 47 (8), pp.814-23. doi: 10.3109/13693780802653933.